Desde a sua difusão, a recorrência ao correio electrónico serviu - entre muitos fins - para estreitar a comunicação entre pessoas. Em vez de se esperar pela "volta do correio", as pessoas passaram a usar esta ferramenta como uma forma de poderem ver respondidas quase em tempo real, as suas preocupações, necessidades ou simplesmente minorar o delay que o correio tradicional implica. Além de não ter de se gastar dinheiro algum com selos, envelopes, etc... que se saiba, o correio electrónico só ainda não dá para enviar encomendas.
A massificação do uso desta utilidade trouxe, entre meras comunicações, a facilidade de se recorrer ao envio de ficheiros cujos conteúdos variam entre o documento dito mais sério e a pornochachada vulgar.
Mas também serviu para o envio de autênticos queixumes políticos que outrora não se fazia pela via dactilografada e timbrada. Antigamente, o correio podia servir para muita coisa, mas nunca para se usar como arma política. Não estou a imaginar um idiota qualquer a enviar um daqueles mails chatos como tudo, apontando (a título de exemplo) quantos "érios" o Alberto João tinha amealhado com a construção de um barraco qualquer ou quanto ganhava o deputado A, ou o administrador da empresa X. Mais: não imagino o mesmo idiota a enviar a mesma coisa, a "n+1" destinatários...
O que não deixa de ser, ao mesmo tempo estranho é esta necessidade quase imperiosa de mostrarmos o nosso desagrado com o estado da nação, ao enviar centenas de e-mails aos milhares de contactos que temos, se calhar com o intuito de vermos reconhecida a nossa indignação perante esse mesmo estado. Quais de nós, encara essa correspondência como um acto meritório da nossa concordância ou do nosso pasmar perante tais dados? Qual de nós sente-se ufano com o facto de demonstrar a todos os contactos que recebemos em primeira mão qualquer notícia dessas e declaramo-nos automaticamente como os arautos da desgraça imbuídos do espírito mais tacanho e minúsculo que a difusão de uma notícia deste calibre vai provocar nos destinatários?
É preciso ter um prazer quase mórbido ao actuar-se desta forma. Hoje em dia recebem-se mais mails alarmistas do que um mail simplesmente a dizer "olá" ou a perguntar pela família. E já para não falar na quantidade de "fiambre" (spam para os mais entendidos) que se recebe...
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